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Um Relato de Infância

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Mensagem por Lucas Al. Sex 16 Set 2022, 18:13

Um dia desses compus este relato de infância. Espero que vocês apreciem. 



Uma batalha inesperada


Certa tarde, eu, o meu irmão e o meu amigo Vini estávamos na Rua 10 do bairro Aurora, brincando de disparar pedrinhas em latas com as nossas baladeiras quando tivemos a ideia de arranjar um cabo novo para a baladeira do meu irmão. 


O estilingue usado pela gente era composto de cinco partes: um cabo de madeira, uma liga comprida, um elástico de impulsão e uma pequena tira de couro. 


Um Relato de Infância Figura11


O cabo serve de suporte, a liga preta para prender o cabo ao elástico, o elástico de impulsão para gerar impulso na hora do disparo e a tira de couro como depósito do projétil que será lançado. 



Então marchamos até o bairro vizinho, onde estava cheio de pequenas árvores em terrenos baldios, à procura de algum graveto para fabricar tal cabo. Desse modo, procuramos nesses terrenos por algum galho saudável, grosso e harmônico para confecção do suporte. E entramos em vários deles repletos de mata. 



Nesse intento, de terreno a terreno, logo tivemos sucesso para achar o ramo adequado. O galho descendia de um tronco com cerca de dois metros e meio de altura, quanto à árvore era comum, daquele tipo que você vê, às vezes, nas calçadas de algumas residências.



Daí, o meu amigo Vini, tirou de repente uma faca do seu bolso e começou a extrair o ramo da árvore. Levei até um susto dado à dimensão do facão puxado! Não demorou tanto para retirar dali, quando encerrado a ação, passamos a contemplar a qualidade natural daquele graveto. Por certo seria a melhor atiradeira já criada por nós! 



Nessa época, a moda de ter um estilingue estava fervendo no nosso distrito. Por vezes, competimos com garotos de outras ruas para provar quem tinha o melhor estilingue. Aquele que conseguia lançar o projétil mais longe ganhava a disputa. Por isso a importância de um bom suporte, já que dá estabilidade e força ao lançamento do projétil. 
Portanto, um bom cabo confere virtude à baladeira. E nos alegramos no pensamento de haver construído, talvez, a melhor da nossa área. 


Após o galho ideal ter sido extraído, retornamos do bairro vizinho ao nosso querido distrito de origem. Enquanto andávamos ao longo de um grande campo de mata rasa, em um lugar desconhecido, escutei subitamente alguns ruídos estranhos: tum!... Tum! 


Ninguém senão este que vos escreve estranhou os barulhos incomuns. Declaro isto porque olhava para os outros dois, o meu irmão e o meu amigo Vini, e não via neles sinal algum de perturbação. Em seguida olhei à direita, à esquerda e nada vi de suspeito.



O som novamente persistiu “Tum!”. Porém, mais sonoro e intenso que os primeiros. E desta vez obtive sucesso e avistei uma grande pedra rolando sobre o solo. Bem pertinho de mim! A dois palmos e meio de distância girando no meu lado esquerdo. Aquilo me chamou a atenção por conta do tamanho do maldito pedregulho. Era grande demais para sair rolando daquele jeito, ainda mais por razão natural, como que pelo vento ou por outro fenômeno da natureza.


A partir daí, olhei para minha retaguarda e vi de três a quatro moleques com atiradeiras por detrás de um muro em construção. O muro tinha quase um metro de altura, parecia uma trincheira de guerra. Notei de imediato que estávamos sendo alvejados pelas pedras daqueles delinquentes. 


Não me recordo bem o que gritei naquele instante para avisar aos outros dois, talvez um: “Estamos sendo atacados” ou então “Estão jogando pedra em nós”. Enfim, não importa tanto o que eu esbravejei na hora. Só sei que retrucamos o ataque com pedradas também, motivado talvez por algum instinto ou ímpeto infantil.


Cada um de nós tinha um estilingue em bom estado e útil para atirar. Empregado sempre para caçar pássaros, porém agora a necessidade de nos defender surgia. Penso que foi a primeira vez que lancei pedras contra outro humano... 


O brinquedo de garotos, a “baladeira”, naquela hora de conflito passou a ser uma verdadeira “arma” em nossas mãos. 


Após trocar algumas pedradas, percebemos a nossa desvantagem no local de batalha. Enquanto estávamos num campo aberto, carentes de escombros ou paredes para nos proteger, eles, os delinquentes, estavam bem protegidos com aquela trincheira de blocos. 


Como se não bastasse isso, dentre os guris estranhos havia um que tinha o mesmo tipo de arma usada por Davi contra o gigante Golias: a funda.



Um Relato de Infância Ilustr10



Tal atiradeira compõe-se de um tecido ou elástico flexível, em forma de cordão, onde o usuário põe a pedra no centro dela, daí gira para ganhar impulso e então arremessa a pedra banhada de velocidade e força contra o seu alvo.


A funda daquele "garoto desconhecido" suportava o lançamento de pedregulhos de grande porte. O que gerava grande pressão sobre nós quando tais pedras caíam próximo da gente. 


À vista de tudo isso, convencidos da nossa desvantagem, fragilidade e impotência na batalha, saímos pelo lado oposto da trincheira inimiga, de costas para eles, mas sempre olhando atrás quando possível, no intuito de acompanhar a queda livre das pedras lançadas contra nós e desse modo nos desviarmos.


Nessa correria, aconteceu um fato inusitado, quase pisei na barriga aberta de um cachorro morto! Naquele lance de olhar para trás (ver o rumo das pedras) e olhar para frente (a fim não tropeçar em algum arbusto), por muito pouco não sucedeu tal pisada. 


O dito cão infelizmente estava na minha rota, de barriga aberta, exibindo o seu intestino, as costelas nuas, desprovido de carne para encobrir, além da disposição de cada costela que em conjunto figurava às oito pernas de uma aranha. Tive que saltar de súbito para não pisar no intestino do pobre cão. E por pouco escapei desse infortúnio nojento...


Enquanto sucedia a nossa fuga, não parávamos de dar risadas. Não víamos nenhum perigo muito sério no conflito. Era para nós essa peleja imprevisível uma grande aventura! Mente de menino é lamentável, eu bem sei meu caro leitor. Após virar a esquina de uma rua, longe do campo de conflito e dos infratores, voltamos a andar calmamente. 


Os garotos estranhos, que sem razão nos alvejaram, não nos perseguiram. E por forte motivo não o fizeram, eles estariam desprotegidos da sua “querida trincheira”. Pois, em toda a batalha não arredara o pé de lá. 
Eles eram corajosos para lançar projéteis em desconhecidos, no entanto, covardes para virem num confronto direto, isto é, sem nenhuma barreira para se esconderem.


Voltamos ao nosso bairro de origem, porém agora com uma história a contar. Uma travessura típica de garotos de rua, um tanto perigosa, por certo, todavia estimulante de certa maneira. Mas também ficou uma advertência: “Em terra desconhecida tudo pode acontecer”. Por isso, todo cuidado é pouco. Aprender com o passado para viver um futuro melhor. E sem pedradas, é claro.  Rsrs... 


The End...


Última edição por Lucas Al. em Seg 26 Set 2022, 19:11, editado 2 vez(es)
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Mensagem por Oziel Seg 26 Set 2022, 17:54

História muito interessante, meu amigo !
Creio que já está pronto para escrever livros !
Oziel
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Mensagem por Lucas Al. Seg 26 Set 2022, 19:07

Oziel escreveu:História muito interessante, meu amigo !
Creio que já está pronto para escrever livros !

Agradeço pelas palavras gentis, meu caro amigo.  Smile

Quanto a "escrever livros"... ainda há um longo caminho pela frente. rsrs...
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